terça-feira, 5 de julho de 2016

VAI PRA PALMEIRA?

"Quem ousa incomodar o silêncio que se reproduz com o vento gélido de uma tarde de inverno, a perfilar a discórdia nesse sonho enigmático? A minha alma sabe muito bem os espinhos enfrentados no fervilhar da vida, algumas vezes afundada num poço de lamaçal, mas arrebatada na melancólica poesia do espaço sideral, então sofre porque esquece por alguns momentos a força que tem, porém a vida é assim, uma tremenda indecisão, embora o meu coração não pedisse, em tempo lembrei-me de ouvir a razão, e antes do galo cantar acordei atordoada com aquela voz forte e ao mesmo tempo suave no meu ouvido chamando o meu nome, Maria! 

- Não é a primeira vez, que isso acontece, dizia-me Maria, eu sei muito bem a quem pertence àquela voz, procuro por tudo quanto é lado e não encontro a pessoa, entretanto sinto-o perto de mim, mesmo assim levantei-me com os olhos inchados de tanto chorar, tinha passado alguns dias depressiva, dentro de casa, sem querer ver e nem ouvir ninguém, então me preparei para sair de casa, não tomei o meu café da manhã, apenas um copo com água, botei a bolsa nas costas, peguei o primeiro transporte alternativo o qual estava estacionado na frente do posto de gasolina, entrei, exatamente as sete e trinta ele partiu para a cidade de Arapiraca, Estado de Alagoas, havia uma cadeira me esperando, sentei-me, fechei os olhos e naquela manhã chovia calmamente como é típico do inverno nessa região, mas eu estava agasalhada, e assim segui viagem sem olhar para trás e em cada ponto estratégico da rodovia estadual o carro parava para receber os passageiros, numa espécie de “pinga pinga”, ali dentro cada pessoa tinha um objetivo, uns desciam antes, outros depois,vale salientar de que naquele transporte havia três pessoas com necessidades especiais e quando chegamos ao destino, os outros desceram e eu fui a última a descer até porque também necessitava da ajuda do cobrador, porém nesse dia quem me ajudou a descer foi um taxista então aproveite e contratei o mesmo para me levar até ao centro da cidade o qual estava embaixo de chuva, mas não me assustei, continuei com o que fui fazer até entrar na cafeteria Ouro Branco lotada de fregueses, peguei uma ficha, encontrei uma pequena mesa vazia, sentei aí pude fazer uma bela refeição matinal olhando o vai vem da multidão nas ruas. 

- Conta-me o restante dessa sua aventura, você sabe que eu gosto de ouvir histórias, falei para Maria, uma senhora de meia idade, minha amiga desde os primórdios das nossas primeiras passadas na terra, frisando de que o meu nascimento se deu alguns meses antes do nascimento dela, e nossas famílias foram amigas por uma vida inteira, apesar de morarmos alguns quilômetros de distância uma da outra, mas isso não impedia as visitas constantes, principalmente nos finais de semana, quando nos reuníamos no terreiro da casa dela ou vice versa, esquecíamos os adultos e nos embrenhávamos no meio do milharal para comermos as bonecas de milho que acabavam de nascer, parecíamos dois animaizinhos famintos, aliás, éramos três, porque o meu cachorro, Jambo, era o nome dele, um animal de caça, nos acompanhava e também comia as referidas bonecas de milho e nossos pais só davam por falta das novas espigas de milho no outro dia, eu levava uma bronca daquelas do meu pai, e muitas vezes ele pegava o cinturão e dava-me uma corça, dizia-me que era para aprender a ter bons modos e não podia sair mexendo na plantação, a mesma coisa acontecia com Maria na casa da mesma, crescemos e após adquirirmos a maior idade, cada um de nós tomou rumo diferentes, mas trocávamos correspondências regularmente, e nesse dia nos encontramos por acaso, coisas do destino, creio eu, ela saía do shopping, cheia de embrulhos do lado contrário ao meu e acabei esbarrando na mesma fazendo-a derrubar algumas sacolas, prontamente pedi desculpas e ao olharmos um para o outro, os olhos dela brilharam de alegria, chamando-me de “Theo”, é você, disse ela, sim, menina quanto tempo, falei, então resolvemos parar para colocarmos o papo em dia, trocamos números de telefone, perguntei-lhe como estava a terrinha, e fulano como está, sicrano, você tem notícias dele, e Maria foi-me respondendo calmamente pergunta por pergunta, sem esquecer de me contar também sobre aquele dia que esteve na cidade de Arapiraca, e eu estava louco para saber sobre o restante da histórias e os detalhes, então ela satisfez a minha curiosidade continuando com a narrativa, 

- Quando terminei o que tinha para resolver, tomei outro taxi, pedi que me levasse ao endereço indicado o qual estava escrito no papel pela minha pessoa, travamos um diálogo e cada um de nós conversávamos sobre assuntos relacionados a arte e a cultura, a nossa conversa foi proveitosa, trocamos cartões de visita, e ao chegarmos ao destino, sempre chovendo, desci, vieram-me atender, despedi-me do referido, e ele perguntou-me, 

- A que horas a senhora quer que eu venha lhe buscar, “dona Maria”? Fiquei surpresa e respondi, 
- Meu amigo, se houver necessidade, eu telefone para você vir me buscar. 
- A senhora tem certeza, de que não está esquecendo alguma coisa? Olhei direitinho, a bolsa estava no meu ombro, sombrinha armada na minha mão, os embrulhos entreguei para a moça que me recebeu carinhosamente, então olhei para traz e disse sorrindo, 
- Está tudo aqui, meu amigo, não se preocupe, porém o mesmo permaneceu inflexível, continuou dizendo que eu tinha esquecido algo, 
- Eu quero saber se a senhora prefere pagar agora ou no seu retorno?


Theo, acredite, o meu sangue esfriou, nossa, nunca tinha acontecido isso comigo, mas tem sempre uma primeira vez, comecei a rir muito, retirei o dinheiro do bolso, pedi mil desculpas ao referido taxista e efetuei o pagamento, o mesmo repetia apenas que isso era normal, ainda bem que ele foi um cara educado, entretanto eu pensara que ele ficou ali esperando que alguém abrisse o portão e eu entrasse com segurança, mas me enganei deveras, eu repetia para Nice, a jovem que me acompanhou ao interior da casa, rimos muito sobre o caso, uma bela casa, disse Maria, você precisava ver com seus olhos, Theo, o jardim rodeado de plantas variadas, bem cuidadas pela jardineira, alguns passarinhos gorjeavam ao redor da mangueira, uma visão de rara beleza, sem falar no silêncio que imperava àquela hora na mansão, lá nos fundo da mesma pude ouvir o papagaio gritando por sua mãe então esperei a dona da casa chegar, nos cumprimentamos com beijos e abraços, falamos sobre muitas coisas do passado, presente e até arriscamos o futuro incerto, lembrei-me de relatar o episódio do taxi com todos e continuamos rindo bastante, falamos também sobre O Universo de Maria, livro escrito pela minha pessoa, uma simples alagoana, procurei fazer uma exposição, muito embora eles sejam conhecedores do meu trabalho de perto, foram colaboradores do meu mais recente sonho realizado e compareceram ao lançamento do começo ao fim, ao meio dia convidaram-me para o almoço, aceitei gentilmente, a mesa estava linda, enfeitada de variados cardápios de cores diversas, deliciei-me com tudo, após, fomos ver um filme, recostados ao divã, eu queria telefonar para o taxista, mas eles não deixaram, queriam que eu pernoitasse na companhia deles e só retornaria para casa no dia seguinte, no entanto senti saudade da minha casa, da minha cama e às quinze horas um deles fez questão de me levar até o ponto dos carros alternativos para retornar à Palmeira dos Índios, mal chegamos e um rapaz gritava, 



- Vai pra Palmeira, venha, este carro sairá agora?! 

- Moço, eu vou para Palmeira, disse-lhe, porém pode ir, não posso sair daqui “voando”, literalmente, claro, não tenho pressa, pegarei o próximo carro! Sou assim mesmo, Theo, você me conhece, não adianta terem pressa, e realmente subi no outro carro que saiu de lá quinze minutos depois, novamente fechei os olhos, a mesma rotina, carro lotado, gente subindo e descendo, ao aproximar-nos da cidade, pedi ao motorista que parasse no posto de gasolina, ponto de partida, porém o mesmo não ouviu e eu desci três pontos depois, não foi tão ruim, apenas atrasei alguns minutos, mas valeu a experiência. 

- Maria, por fim falei, o meu estômago já anda reclamando, você aceita almoçar comigo? 

- Por mim tudo bem, mas será que não vou atrapalhar os seus planos? Ela disse isso um pouco ruborizada. 



- Peguei-a pelo braço e nos dirigimos ao restaurante enquanto falava, deixa de besteira menina, você não atrapalha nunca, pelo contrário, será uma boa companhia, ainda tenho algum tempo livre, e só daqui a algumas horas é que embarco para o Rio de Janeiro, passarei uns quinze dias por lá, quero resolver umas coisas pendentes, e quando eu retornar, gostaria de lhe visitar. 


- Está certo, vou esperar o seu regresso contando os dias, as horas e os minutos. 

Durante o almoço falamos sobre outras coisas, entretanto eu não tirava os meus olhos daquela bela mulher que no passado conseguiu me tirar do sério, sim me apaixonei por ela, quem sabe, um dia, poderei contar essa história, isso vai depender do nosso próximo encontro o qual espero ser em breve, após, acompanhei-a ao ponto de taxi mais próximo para deixa-la em casa e aproveitei o mesmo taxi para me levar até ao aeroporto, para falar a verdade eu queria toma-la nos braços e beija-la na boca, mas me contive a tempo, isso ficaria para depois porque precisava saber mais detalhes sobre a sua vida, sobre aquela voz que a chamava constantemente, mesmo assim, fiz um enorme esforço e por fim nos despedimos com um até logo mais..."


(Escritora Mj...05/07/2016-Em novas aventuras)

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